O “A” e o “Z”, título de um som dos Mutantes, contemplou os dois extremos do alfabeto.

Mas eu quero é falar do “B”, que não é nem a primeira nem a última das letras, que se mantém num suado segundo lugar e, mesmo assim, carrega o estigma do que é inferior: lado “B”, filme “B”…

O lado B é em geral aquele não assumido, que não se quer que apareça, o que fica convenientemente por baixo quando executamos as faixas do lado A do disco.

De fato, o lado não tinha nada a ver com a qualidade do conteúdo de um álbum. Mas houve algumas ideias criativas no tempo dos vinis, como discos com dois lados A. O primeiro foi o single dos Beatles de 1965, com “We can work it out” e “Day tripper”.

E também não é raro que um som do lado B chegue ao topo das paradas, como aconteceu com “Hound dog”, na interpretação de Elvis Presley, alcançando tanto sucesso quanto “Don’t be cruel”, seu lado A. (Sobretudo, se for bom, se tiver o que dizer e se investir nele.)

O lado B é um lado de que não gostamos, onde pretendemos esconder bem escondidos nossos vícios, nossas taras, nossas implicâncias, nossos desvios e covardias. É feito de algo que rejeitamos como ilegítimo, embora não seja necessariamente ruim. Como a simpatia não confessada pela madrasta da Branca de Neve ou pelo Magneto, arqui-inimigo dos X-Men e, ao mesmo tempo, tão próximo, tão íntimo do professor Xavier.

Ele é feito de coisas ancestrais, de conceitos e emoções a que, frequentemente, nos apegamos e, talvez, seja tempo de deixar que se vão.

Há ali também as manias. As influências que abertamente renegamos mas que, no fundo, acatamos.

Escondê-lo é um jeito de tentar parecer um pouco melhor que somos, de não assustar os outros e de tentar ficar mais perto do que temos como ideais de conduta. Mas algumas vezes, nossos ideais é que precisam de ajustes, porque são baseados em conceitos falsos, em construções artificiais de uma personalidade que não nos representa e nem nos ajuda a viver.

O fato de questionar nosso “lado B” mostra um anseio de mudança. Evitá-lo não o elimina. Repensar. Rever. Retirar aprendizados é o que ajuda a mudar.

Alguns itens eventualmente podem mudar de lado, nesse processo, legitimados pela nossa aceitação, entendimento e sábia utilização. Eventualmente, eles só estão do lado B porque os colocamos lá.

(Republicado de Anotações Informais)

Publicado por ritafoelker

Filósofa, palestrante e jornalista. Escritora reconhecida nos temas: espiritualidade, inteligência emocional e educação, publica livros desde 1992. Faz palestras no Brasil e no exterior. Formação em Pedagogia Sistêmica com a Educação, pelo Instituto Hellen Vieira da Fonseca.

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