Educação é um tema que me mobiliza há décadas. E sou incentivada a escrever sobre ele, quando contato pais interessados em oferecer conhecimentos relevantes, boas experiências e bons hábitos para seus filhos se desenvolverem felizes e saudáveis. Para se tornarem adultos dignos e sensíveis, pessoas de bem, profissionais realizados, seres humanos conscientes de seu papel no mundo que compartilhamos.
Hoje o assunto é a influência do funk e de todo o contexto em que ele se insere, que invade nossas casas, nossos carros (no trânsito congestionado) e nossos ouvidos. Um alerta sobre sua influência sobre as ideias e o comportamento infantil e adolescente.
Sempre escrevi e falei sobre a arte e seu papel importante de sensibilização e educação espiritual, descortinando sensações de qualidade vibracional superior e experiências que podem conduzir à descoberta de emoções mais puras e elevadas.
Não vou discutir se funk é arte ou não, mas dizer que ele, em lugar de elevar, degrada.
Por que digo isso?
Porque o conteúdo das letras e o ritmo não se dirigem à sensibilidade mais profunda e nem à boa razão, eles evocam apenas os instintos básicos da animalidade. Instintos são disposições naturais que levam os animais a realizar certas sequências de ações de uma forma predefinida, sem interferência da razão. Um peixe acasala por instinto, ele não pensa se é o momento adequado, se poderá alimentar os filhotes. Ele não ama, considera ou respeita a mãe da sua prole, apenas segue um impulso que empurra para o coito.
As letras do funk se referem a instintos relacionados ao acasalamento, à agressividade e à sobrevivência (no caso, dentro de um meio degradado e violento). E isso nos afeta porque seres humanos, enquanto animais, têm comportamentos instintivos e podem ser estimulados a exercê-los de forma crua e imponderada.
Composições sem melodia nem harmonia; as letras violentas, o conteúdo machista, a apologia do crime, a sensualidade fora de contexto da intimidade, exposta e banalizada, certamente não estão ajudando a educar boas pessoas e bons cidadãos. Basta verificar o comportamento de tantas crianças e adolescentes influenciados pelo funk nas ruas, nos vídeos do Youtube, nas salas de aula…
Uma pesquisa alemã de 2006, sobre música e agressão, apresentou o impacto das letras sexualmente agressivas sobre pensamentos, emoções e comportamentos de homens e mulheres. Homens usaram adjetivos ruins para descrever mulheres, após ouvirem músicas misóginas; mulheres que ouviram músicas ofensivas aos homens tiveram reações parecidas. As letras violentas com outros temas também aumentam a agressão por palavras e comportamentos, segundo um importante e amplamente citado estudo feito em 2003 na Universidade de Iowa e pelo Departamento de Serviço Social de Austin (Texas).
Quem já tem uma personalidade formada, maturidade, não é influenciado por essas músicas. Mas crianças não têm critérios para escolher pelo que se deixarão influenciar. Elas contam com os pais e adultos ao redor, para construir esses critérios e conquistar discernimento.
Quando estão cercadas por pessoas mais velhas que ouvem e apreciam músicas degradantes, reproduzindo as coreografias vulgares, essas crianças simplesmente irão adotá-las como normais e reproduzi-las, incorporando-as ao seu repertório cotidiano e à sua cultura. A sensualidade exacerbada e a violência gratuita farão parte de sua maneira de ser. Sua personalidade será formada com estes ingredientes, sua visão de vida será condicionada por eles.
Hoje em dia as crianças e adolescentes usam celulares, longe da possibilidade de monitoramento dos pais. Há um momento que a curiosidade sobre o sexo e a sexualidade surgem de uma forma implacável. Onde eles irão buscar orientações e modelos? Como vão aprender a agir perante o impulso sexual? O assunto é mais sério do que normalmente se imagina.
Em nosso atual momento evolutivo, porém, nós já contamos com a razão, a sensibilidade e o senso moral suficientes, para mediar nossas ações, isto é, para decidir o que é bom ou ruim, saudável ou doentio, certo ou errado, antes de agir.
Saímos da esfera do puro instinto, que visa apenas a sobrevivência. Avaliamos nossas condutas e seus efeitos. Reconhecemos e controlamos nossos impulsos agressivos. Adquirindo conhecimentos, multiplicamos nossas opções. Quando melhoramos nossas escolhas, atingimos níveis mais sutis de felicidade e harmonia interna, usando melhor a nossa liberdade. Tornamo-nos mais aptos a viver a vida em comunidade e descobrir, em nós, os anseios espirituais para uma busca de evolução consciente.
O funk apenas nos faz revisitar lugares sombrios, eventualmente terríveis, onde já estivemos e onde não faz sentido estacionar. Por outro lado, evoluir é seguir adiante, para experiências e estágios de afetividade e consciência superiores.