Muitas gente costuma pensar nos ensinos de Jesus como regras, regras que estabelecem comportamentos desejáveis, comportamentos que adotam para serem bons cristãos.
Mas amar ao próximo não é isto. Amar ao próximo não é um gesto ou doação, para cumprir uma regra e ser salvo. A salvação não é sobre regras. Basta lembrar como o Mestre constantemente advertia os fariseus, tão apegados ao cumprimento de regras…
Amar ao próximo é um movimento puro do coração, que torna todos os seres amados bem-vindos e compreensíveis. Que nos torna empáticos, solidários, irmãos. Que funciona dentro do olhar, com o brilho da compaixão; nos pensamentos, que se fazem generosos; nas palavras, que refletem suavidade; e nas mãos, que se abrem, prestativas.
Amor não se impõe, nem a si mesmo. O amor é uma conexão com a real forma de ser do Universo e, não, com as nossas maneiras parciais de pensar que amamos, de nos acharmos certos, de nos acharmos inteligentes etc. O amor não é uma regra, nem uma frase que se repete, é um sentir verdadeiro.
Por isso, “amar ao próximo como a si mesmo” é o ensinamento de Jesus mais difícil para mim.
Dias atrás, li este trecho de Yehuda Berg, muito esclarecedor:
“O amor está em toda parte. Muitas pessoas falam sobre sua busca por amor, mas amor não é algo que se encontre. É algo com o qual nos conectamos. O amor está em toda parte. É uma energia à qual sempre podemos nos conectar, simplesmente oferecendo-a aos demais.”
Mas eu sei que não consigo fazer assim, ao menos, não com muitas pessoas e, certamente, não o tempo todo. Sei o que é o amor pelo meu sentimento compartilhado com família e amigos. Mas, com outras pessoas, com estranhos, com pessoas que mentem, bombardeiam e matam… nem tanto.
Já senti algo parecido com esse amor, eventualmente. Quando o Calunga se aproxima e, de repente, minha visão e sentimento sobre algo ou alguém parecem mudar, pela irradiação dele. Isso abre, para mim, uma percepção incrível, ampla, serena, acolhedora, de uma situação que antes me deixava irritada ou irredutível.
Só que isso é do Calunga e ainda não é meu…
Bem, só saber que existe, já é maravilhoso e me enche de confiança. Um dia, eu vou conseguir!
Tomara que você sinta pelo menos uma faísca desse amor, em algum momento dessa época de Natal. E que ele preencha de um significado maravilhoso todos os seus gestos, suas comemorações, suas doações, suas confraternizações, colocando uma energia maravilhosa ao seu redor e de todos que ama! E que esse sentimento transforme você, eu, todos que o experimentarem, numa pessoa ainda melhor do que já foi até hoje. Feliz Natal!
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Imagem: Jovem judeu como Cristo (1656), pintura de Rembrandt.