Sempre pensamos em consciência elevada como um estado importante, que só os grandes sábios, meditadores, místicos e santos alcançam. Mas todos nós podemos experimentar, sem ter que praticar jejuns, nem peregrinações.

Estados de consciência são estados mentais temporários. O mais comum é o da mente consciente ativa, o estado de vigília, quando estamos despertos ou acordados. Nele, a mente inconsciente atua sem ser percebida e a mente subconsciente ativa conteúdos, se necessário.

Temos também o estado de sonho e do sono sem sonhos. Há um estado que é o de relaxamento, que está entre o estado acordado, o sono e o sonho, onde podem ocorrer visualizações superficiais. E há estados que não são naturais. São induzidos por substâncias  ou, então, estados treinados como a meditação…

Nós podemos experimentar diferentes estados de consciência, incluindo estados de consciência elevada. É um estado mental que a gente pode alcançar neste exato momento, se atender a certas condições. Por exemplo, podemos meditar, ou usar uma música… uma leitura como alavanca. Podemos sair para uma caminhada e atingir um estado mental mais sereno, mais tranquilo, mais generoso, com uma percepção mais ampla dos fatos e dos seres. E isso pode durar algumas horas ou até dias.

Vamos caminhar um pouco pelo terreno da neurociência. A maioria das pessoas passa seus dias preocupada consigo mesma, com sua sobrevivência, numa vida comum e rotineira. Esse é um estado de consciência inferior. Inferior porque ele não é, em termos de motivação, muito diferente do pensamento de um réptil. O espírito, conforme evolui para uma vida mais complexa, vai constituindo seu organismo de acordo com as suas necessidades e possibilidades e nós temos um cérebro dividido em três unidades funcionais diferentes, correspondendo a aquisições do espírito. A parte inferior no cérebro é chamada de cérebro reptiliano. E grande parte do nosso comportamento é processada nele, que se encarrega de funções básicas: sobrevivência e reprodução, funcionando sempre numa dimensão irracional, primitiva, mas que responde por grande parcela de nossos comportamentos.

Quando funcionamos nesses padrões de resposta e comportamento, fazemos coisas como revidar quando apanhamos, culpar os outros para salvar nossa pele, apenas atuamos de forma instintiva ou impulsiva, sem questionar nem buscar alternativas melhores. Enfim, vivemos uma vida autocentrada e com tarefas muito limitadas, sem criatividade, sem as noções mais avançadas da ética.

Como nós, porém, já não somos mais inteligências na fase de desenvolvimento animal, nós podemos apresentar respostas melhores. Esse estado mental inferior pode mudar. Num dia de contemplação da Natureza, num momento de silêncio e prece, quando não nos sentimos coagidos nem ameaçados, quando o medo e o estresse desaparecem, nesses momentos, podemos alcançar um estado mais elevado de consciência. Ampliamos nossa visão, nos tornamos mais empáticos em relação às outras pessoas. Deixamos o Ego falando lá looonge e desenvolvemos uma percepção mais abrangente das situações. A mente vai além dos seus próprios interesses imediatos.

Conseguimos perceber que, em algum nível psíquico mais fundo, essas pessoas sofrem. Elas agem assim por pressões, por medo, por complexos de todo tipo, e ficamos mais perto de aceitá-las e perdoar seus atos. Seus comportamentos, seu temperamento pode ser fruto da fragilidade, de feridas internas, e não de maldade deliberada. Conseguimos intuir a sua dificuldade, sua aflição, suas limitações, e não as atacamos mais, com pensamentos e palavras. Abraçamos e compreendemos cada ser, reconhecendo suas atitudes infelizes como indícios de uma difícil travessia do seu caminho evolutivo. Paramos de focar no quanto isso nos incomoda ou afeta e atingimos uma visão mais abrangente, mais contextualizada.

Começamos a perceber que o cinismo e a agressão não são reações positivas nem construtivas. Percebemos as criaturas na sua enfermidade, no seu apego, no seu sofrimento, e desenvolvemos um sentimento de bondade e simpatia. Nossos interesses e desejos pessoais contam menos. Nossas preocupações habituais se relativizam ou desaparecem. Poder, posses, nada disso significa muita coisa, agora.

Estados como esse são passageiros. São breves, porque logo nos lembramos de nossas tarefas, compromissos, problemas, e voltamos ao estado anterior de consciência. O que podemos fazer, então, é aproveitar esses momentos, colher carinhosamente essas impressões, que ficam, e guardá-las conosco, para usar essa experiência nos momentos de caos interno que surgem no dia a dia, porque essa ampliação, essa elevação da consciência nos permite sentir e ver as coisas de um jeito que a mente reptiliana jamais poderia.

Sejam eles bons ou ruins, nós experimentamos os estados de consciência por um período e depois passam. Já o nível ou estágio de consciência pressupõe uma conquista permanente, quer dizer, você se tornou aquele ser sereno, tranquilo, pacífico e generoso de forma permanente e irreversível. Isso faz parte de você, do seu cotidiano e é algo que você não poderá mais perder. Isso quer dizer que o que é um estado de consciência mais elevada pode se tornar um nível de consciência mais elevada!

Todos nós desejamos viver permanentemente nesse estado de harmonia, de comunhão com a vida e com o próximo. Mas o ponto chave, o que muda tudo, é: você quer realmente mudar? Ou quer que sua vida fique instantaneamente bela e perfeita, continuando exatamente como você é?

Li outro dia no Face, de um autor desconhecido, que “a lagarta antes de virar borboleta também fica confusa! Ah… se todos nós soubéssemos que para ganhar asas temos que largar a nossa parte que insiste em rastejar.”

Publicado por ritafoelker

Filósofa, palestrante e jornalista. Escritora reconhecida nos temas: espiritualidade, inteligência emocional e educação, publica livros desde 1992. Faz palestras no Brasil e no exterior. Formação em Pedagogia Sistêmica com a Educação, pelo Instituto Hellen Vieira da Fonseca.

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