Quando Allan Kardec e os Espíritos da Codificação nos trouxeram a proposta e as bases de uma Ciência Espírita, o planeta vivia um momento em que os alicerces da religião eram solapados pelo avanço das ciências de base materialista. Crescia o número de céticos e descrentes e o não reconhecimento da existência de Deus, e também da alma ou espírito, ganhava terreno na explicação dos fenômenos físicos, químicos e biológicos.

A princípio, tudo a respeito de Espiritualidade pode parecer uma questão de crença. Crer em Deus. Crer na alma. Crer no pós-vida. Mas as crenças são voláteis, como as opiniões. Crer e deixar de crer é só um movimento da mente. E uma ciência que desvenda as leis do mundo espiritual é um conhecimento além da crença, é um conjunto de certezas experimentais que de fato fundamentam nosso modo de pensar e agir, que passam a ser firmes e convictos.

Kardec percebia, como alguns pensadores espíritas posteriores e, destacadamente, Herculano Pires, que conhecimento científico é relevante, leva-nos a pensar a vida e também a extrair princípios de conduta moral para o nosso viver. E que só a religião ou , mesmo, o misticismo, não realizam esse movimento cognitivo e moral.

É só olhar em volta. Vivemos num país onde importantes matrizes religiosas se desenvolveram, contudo, a religião somente não barra o avanço da degradação dos comportamentos, nem dos valores culturais, como podemos observar. As pessoas seguem se mostrando cada vez mais egocêntricas e narcisistas, mas também neuróticas, instáveis e desorientadas em seus comportamentos e escolhas de vida.

Enquanto isso, as crianças, que deveriam viver num ambiente que incentivasse o autoaprimoramento, o aprendizado e a cooperação, na maior parte do tempo, ouvem, leem e assistem conteúdos vazios que incentivam à vaidade, ao desrespeito, aos comportamentos vulgares e à erotização precoce. Observe sua admiração das celebridades vazias – isto, quando não são evidentes maus exemplos – enquanto a escola vai definhando no desânimo dos professores, na falta de verbas e no descaso e incompetência das autoridades.

O que uma coisa tem a ver com a outra?

Lemos em O que é o Espiritismo, de Kardec: “O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem dessas mesmas relações.” A Ciência Espírita é, portanto, aquela base de pesquisa e resultados experimentais que permite investigar a questão do espírito por meio dos fenômenos anímicos e mediúnicos, fontes de evidências materiais produzidas por forças espirituais. A Ciência Espírita possibilita também reconhecer e compreender as relações da nossa vida na Terra com o invisível, a partir do estudo das suas leis, fatos e consequências. Mas esse estudo, até hoje, ainda permanece restrito a grupos e estudiosos movidos quase que exclusivamente pelo seu idealismo, por sua própria determinação e curiosidade intelectual.

Herculano Pires, em Ciência Espírita e suas Implicações Terapêuticas, registra o que ocorreu desde então: “A escassez do elemento humano interessado na busca da realidade pura não lhe permitiu a expansão necessária. O homem terreno continua ainda apegado
aos interesses imediatistas e aos seus preconceitos, à sua vaidade sem razão e sem sentido. São poucas as pessoas de mente aberta e coração sensível, nesta humanidade egoísta e voraz. (…) O panorama atual do mundo nos dá a medida exata do nosso atraso evolutivo.”

Todos nós estamos inseridos numa realidade espiritual ignorada ou subestimada em sua importância. E enquanto ignoramos ou subestimamos o espírito, nossa vida se limita e se apequena. As nossa mente se fecha num círculo cada vez menor de compreensão do mundo e do próximo, voltando-se cada vez mais para si mesma e seus assuntos mais imediatos, quando nossa meta espiritual seria atingir uma posição mais elevada e compreensiva da vida, por se abrir para a visão dos propósitos da existência na Terra. Enquanto não desvendamos e compreendemos de fato a vida espiritual, permanecemos cegos, acomodados em situações de pobreza intelectual e deterioração moral, onde faltam perspectivas de realização e felicidade verdadeira.

Enquanto não entendemos que a espiritualidade não se refere apenas à existência de seres espirituais ou de Deus, mas a leis que dão forma e finalidade à matéria, que estruturam nossa vida, continuamos assistindo a vida se enfeiar, empobrecer e adoecer pelo egoísmo e pela cegueira espiritual, que persistem moldando para nós uma vidinha limitada e sem nobres objetivos.

Publicado por ritafoelker

Filósofa, palestrante e jornalista. Escritora reconhecida nos temas: espiritualidade, inteligência emocional e educação, publica livros desde 1992. Faz palestras no Brasil e no exterior. Formação em Pedagogia Sistêmica com a Educação, pelo Instituto Hellen Vieira da Fonseca.

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