Assisti no Netflix a um filme muito bom, apesar de violento: Assassinos Múltiplos (2017). Gostei porque o cara morava numa casa cheia de livros – uma paixão para mim! Porque as partes do filme eram divididas por citações do imperador romano e autor estoico Marco Aurélio (121-180), em seu livro Meditações. Mas principalmente porque…
Bom, o personagem principal, um advogado vivido por Antonio Banderas, passa por uma tragédia familiar, o assassinato de sua esposa e sua única filha.
O advogado não é nenhum exemplo de herói. Mas a sua mudança de atitude tem algo a nos ensinar. Saindo do contexto da história, analisando apenas a sua jornada pessoal e, principalmente, sem de forma alguma defender aqui a vingança como solução para qualquer coisa, vemos que ele tem duas reações muito distintas ao acontecimento.
Primeiro, ele entra num ciclo de culpa, remorso, raiva, tristeza,
vergonha por não ter sido um pai melhor. E tudo isso apenas gera uma série de atitudes e comportamentos autodestrutivos. Como? Através do alcoolismo e participando de lutas ilegais, onde ele basicamente entra só para apanhar e ficar machucado. Expressões de uma visão destrutiva dos fatos, que leva à sua decadência física e psicológica.
Depois, contudo, ele resolve descobrir o culpado e se vingar. Para isso, ele deixa as bebedeiras, pára de frequentar os ringues. Faz a barba, “arruma a casa”, se reestrutura, começa a aprender uma arte marcial, retoma e desenvolve suas competências e recupera seu autocontrole. Adota uma visão construtiva dos fatos. Uma percepção da realidade em que assume sua força para fazer o que acha importante.
Quando ele define para si um objetivo e está disposto a atingi-lo, suas atitudes e comportamentos também passam a ser construtivos. Ele se organiza, planeja, foca naquilo que precisa para realizar sua meta.
O que eu quero destacar aqui é que nada, na realidade exterior, havia mudado. Mas a mudança interna fez a mais absoluta diferença, na sua vida e no seu futuro.
Todos temos esse poder de escolher como olhar para uma situação. Ter uma visão destrutiva ou construtiva das situações. E esse poder é decisivo para o nosso sucesso ou fracasso.
Funciona assim: é como se você congelasse mentalmente uma situação num momento péssimo, mas aquele quadro pertencesse, de fato, a um filme. A cena muda, coisas acontecem, pessoas novas aparecem, mas se o seu pensamento está fixado num quadro que você gravou como negativo, você não consegue enxergar nada de bom.
Não se engane com essa imagem, porém, pois é sempre você que escolhe o que fazer diante da situação que está vivendo, por mais terrível que seja. Ou reclama, fica com raiva, chama a vida de “injusta” e desconta nos outros. Ou usa essa situação para evoluir, para se tornar um ser humano melhor, para desenvolver competências, para aprender e para transformar a sua própria realidade.
Sinta-se livre onde você estiver é um pequeno livro de Thich Nhat Hanh (Ed. Sextante) que tem muito a ver com tudo que escrevi aqui, baseado numa palestra que ele fez num presídio dos Estados Unidos!
Somos, sim, afetados pelos acontecimentos, mas nos tornamos vencedores ou vencidos, por causa das nossas emoções, pelo modo como encaramos uma situação e decidimos agir a partir dali.
Lembre-se disso, busque sempre uma visão construtiva de todos os acontecimentos. Você perceberá diferenças importantes no seu desempenho e nos seus resultados.