(Este texto é parte de um livro em fase de preparação.)
Você já se sentiu competente para fazer um trabalho, para atingir um resultado? Essa é uma sensação boa, de ter tido a capacidade e de haver conseguido tomar as decisões mais acertadas em favor de uma realização.
E é em momentos como este, que percebemos claramente o valor das competências. Mas o que são competências? Como elas funcionam?
Competência é um dos termos mais usados na nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e entender seu significado torna possível aplicar esse conceito com maior amplitude e eficiência.
Competência é um conceito que se revela na prática e que se baseia em aptidões aplicadas em conjunto. Quando conseguimos mover, ao mesmo tempo, conhecimentos, habilidades, atitudes e valores, a fim de resolver problemas e atender às demandas do nosso cotidiano, significa que somos competentes para lidar com eles.
Então, toda vez que cultivamos (1) conhecimentos, (2) habilidades, (3) atitudes e (4) valores, que criamos situações em que eles funcionam em conjunto, estamos desenvolvendo competências que melhoram a vida. Isso vale para nós mesmos e para os outros, que incluem filhos e alunos.
Competência resulta em mais felicidade, mais eficiência e menos preocupação.
Uma das primeiras consequências do que disse acima, é que não se desenvolve competência lendo sobre um assunto, ou resolvendo problemas num papel. Você pode nutrir a mente com leituras e vídeos, treinar o cérebro com exercícios e aplicações de fórmulas, já que esses conteúdos compõem o repertório que você vai usar no momento de necessidade. Mas só quando você mergulha numa experiência, vive sua complexidade, o desafio e as emoções presentes, é que você de fato desenvolve competência.
Aprender significa adquirir conhecimentos, desenvolvendo habilidades. Você aprende a desenhar as letras, isso lhe permite escrever. Desenhar letras é o conhecimento. Escrever é a habilidade. Mas escrever com competência é mais que mera habilidade: é comunicar-se com correção ortográfica, facilidade, ritmo, clareza, criatividade, adequação…
A segunda consequência é que a competência só pode ser percebida e desenvolvida dentro de um contexto. O contato com a realidade prática, sistêmica, ajuda a experimentar e organizar a experiência como um todo, possibilita aprimorar nosso pensamento e nossa ação na própria experiência. Não é só o cérebro que é ativado, é o corpo, os sentimentos, as emoções, o senso ético.
No livro O Foco Triplo, Daniel Goleman nos oferece um exemplo fantástico, de garotos de 6 anos que percebem que estão brigando demais. Eles estudam numa escola que foca o pensamento sistêmico e conseguem perceber a relação entre “palavras maldosas”, “sentimentos feridos” e “brigas”, que formavam um ciclo. Então, outro garoto observa que, se usassem “palavras bondosas” e “sentimentos bons”, eles poderiam mudar os acontecimentos para melhor. Numa situação prática, na percepção de como se sentem sobre as brigas e das consequências daquilo que fazem, eles encontram um caminho para conviver melhor. De que provavelmente não esquecerão, pela vida afora.
O que é importante, nesse exemplo, é que a própria situação real, sendo complexa e multifatorial, estimula o cérebro a buscar respostas nos seus conhecimentos e habilidades, atitudes e valores, a fim de definir a melhor maneira de agir. Isso quer dizer que, a partir do momento em que eu aprendi como fazer, torno-me capaz de usar esse aprendizado para meu bem, o bem da minha comunidade e do meu planeta.
Quando se trata de competências socioemocionais e interpessoais, geralmente se acredita que elas deveriam vir “prontas”, “de casa” e que a escola deve oferecer outro tipo de conhecimento e habilidade. Mas o mais comum é que a família também precise de ajuda e orientação nessa tarefa de educar e orientar os filhos.
Quando os pais ou cuidadores se tornam sensíveis à importância de fazer sua parte, quando se tornam acessíveis a orientações oferecidas pela escola, a harmonia e a coerência entre as diretrizes da família e da escola estabelecem a segurança dos parâmetros de comportamento a que a criança deve atender. A criança se torna mais tranquila, com base na sintonia entre as mensagens que recebe no lar e na escola, fica mais confiante e mais disponível para aprender.