O terror da personagem Momo voltou a assombrar famílias, nesta semana. A história começou com uma escultura criada por Keisuke Aiso em 2016 e e exposta numa galeria de Tóquio, no Japão. Em 2018, a foto da peça foi usada para espalhar mensagens perturbadoras pelo WhatsApp e, agora, elas aparecem em vídeos que seriam dirigidos ao público infantil.

Apesar do artista ter afirmado que a jogou no lixo, a fantasia e a exploração da “Momo” continuou. A visão costuma gerar medo e pensamentos macabros, vindo acompanhada de sugestões de conteúdo violento.

Mas o que nos importa, aqui, é analisar a forma como isso chega até nossas crianças, que evidentemente demonstra que (1) as crianças têm acesso amplo ao celular, sem supervisão, e (2) os pais não têm controle sobre o que seus filhos assistem durante esse período.

Isso é grave? Sim! Mas por que parece um problema tão difícil de resolver? Porque o celular hoje é uma das formas mais eficientes de distrair os filhos e mantê-los quietos. O que vem a calhar num universo de pessoas geralmente ocupadas e sem tempo, como tantos pais…

Crianças ganham celulares por várias razões e uma delas é pelo fato de que os coleguinhas também têm. Mas antigamente os pais lidavam com os filhos que queriam ter ou fazer algo, só porque os amigos tinham/faziam, com a frase: “Se seu amigo pular da ponte, você vai pular também?” Será que ela perdeu seu valor? Entendo que não.

Meu filho precisa de um celular?

Talvez, sim. Mas primeiro precisamos saber para que esse celular será necessário – já que nem toda criança tem necessidade real de um. E também se ela entende o que significa possuí-lo, especialmente quanto às restrições ao seu uso, que deverá obedecer, e aos riscos que ele envolve.

Só a compreensão das restrições e dos riscos já tem consequências sobre a idade adequada para a criança ganhar seu aparelho, pois ela deve entender que não se trata de mais um “brinquedo”.

Note que as crianças não precisam da Momo amedrontando-as, nem dos anúncios que as capturam desprevenidas. Exemplo disso: a estratégia da campanha de lançamento das bonecas LOL, pressionando os pais ao consumo de itens que não cabem em qualquer bolso e deixando tantas meninas pequenas, frustradas com o que não podem ter.

A psicóloga Sharon Thomas disse à Época Negócios que muitas crianças ainda não desenvolveram determinadas funções cerebrais que são necessárias ao bom uso do celular. Ela então menciona as funções executivas.

Funções executivas (executive functions) é uma expressão que engloba processos cerebrais de ordem superior que incluem inibição, memória, atenção, flexibilidade, planejamento e solução de problemas, e que controlam ações dirigidas por objetivos e respostas adaptativas a situações novas, complexas ou ambíguas. Essas situações estão representadas perfeitamente nas redes sociais a que se tem acesso.

“Nos Estados Unidos, as escolas tentam entender como a tecnologia está afetando ou beneficiando o desenvolvimento dessas funções executivas”, afirma Sharon Thomas.

Capacidade de planejamento, de estabelecer metas a longo prazo, iniciativa na tomada de decisões e flexibilidade comportamental são algumas delas, funções que só se desenvolvem plenamente na faixa de 25 a 32 anos. Bem, isso, para mim, significa que muitos adultos não contam com essas funções plenamente desenvolvidas e explica, também, muitas de suas ações. Você pode notar, assim como eu, quanto cresce o número de pessoas que se tornam pais e mães, cada vez mais cedo…

Ou seja, pais despreparados ou imaturos implicam filhos correndo riscos graves.

O que fazer, então?

Primeiro, eu convidaria você a analisar os motivos para seu filho ter um celular – ou acesso irrestrito ao seu celular, o que tem consequências semelhantes. Você talvez trabalhe, estude, cuide pessoalmente de tantas coisas… Note, porém, se o tempo que “não existe”, quando é para estar com seus filhos, vem sendo aplicado em coisas menos prioritárias.

Quanto aos aplicativos que ajudam a controlar e monitorar o uso do celular pelas crianças, eles têm seu valor. Mas fique atento para não usá-los somente para se tranquilizar, sem observar os excessos que você também pratica. Lembre-se de que os smartphones, em vez de facilitar, podem dificultar ainda mais o relacionamento pais/filhos. Pesquisadores da Universidade de Virgínia obtiveram resultados que indicam que o uso excessivo de smartphones pode impedir a conexão emocional e prejudica a experiência rica e fundamental de criar filhos.

Agora, cabe a você e o seu bom senso fazerem os ajustes fundamentais na relação das crianças com o celular. Não tenha medo de agir como pai e mãe, porque filhos precisam muito disso.

Publicado por ritafoelker

Filósofa, palestrante e jornalista. Escritora reconhecida nos temas: espiritualidade, inteligência emocional e educação, publica livros desde 1992. Faz palestras no Brasil e no exterior. Formação em Pedagogia Sistêmica com a Educação, pelo Instituto Hellen Vieira da Fonseca.

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